sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Pesquisadores criam supermadeira tão resistente que pode substituir até o aço

Engenheiros adensaram e fortificaram madeira com técnica inovadora que pode lhe dar novas aplicações, da construção civil a indústria automotiva.


Uma madeira mais resistente do que a natural e mais forte do que ligas de titânio foi desenvolvida por engenheiros da Universidade de Maryland, nos EUA, que dizem que sua invenção pode ser um importante substituto do aço.
Liangbing Hu (à esq.) mostra como a supermadeira é mais densa e comprimida em relação à madeira natural, nas mãos de seu colega Teng Li | Foto: Hua Xie
Liangbing Hu (à esq.) mostra como a supermadeira é mais densa e comprimida em relação à madeira natural, nas mãos de seu colega Teng Li | Foto: Hua Xie
Foto: BBCBrasil.com
"É uma solução promissora na busca por materiais sustentáveis e de alto rendimento", afirmou à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, Liangbing Hu, professor-associado de Ciência e Engenharia de Materiais da universidade e líder da equipe que desenvolveu o projeto, publicado no periódico científico Nature.
Segundo ele, o produto final apresenta 12 vezes mais resistência que a madeira comum.
"É um tipo de madeira que pode ser usado em automóveis, aviões, edifícios e em qualquer aplicação em que se use aço."
Pesquisadores dizem que a supermadeira terá aplicações diversas em automóveis, edificações e móveis, por exemplo
Pesquisadores dizem que a supermadeira terá aplicações diversas em automóveis, edificações e móveis, por exemplo
Foto: Getty Images / BBCBrasil.com

Resistência da lignina

Essa supermadeira é fabricada em duas etapas: a primeira consiste em um tratamento químico para a extração parcial da molécula chamada lignina, um dos polímeros mais comuns do planeta e o elemento que confere à madeira sua cor amarronzada e sua rigidez.
Depois, a madeira é comprimida a um calor de 100ºC, o que "espreme" as fibras de celulose e reduz a grossura do produto final em cerca de 80%.
Essa compressão destrói eventuais defeitos na madeira, como buracos ou nós. Mas o mais importante é que suas fibras ficam tão próximas entre si que formam fortes elos de hidrogênio.
A lignina é retirada justamente para evitar que fiquem espaços vazios entre as fibras, explica Hu. Mas essa emoção é apenas parcial porque "se comprimíssemos a madeira depois de extrair a lignina totalmente, a estrutura inteira (do material) colapsaria".
Liangbing Hu e seu colega Teng Li mostrando a supermadeira; pesquisadores a testaram com projéteis semelhantes a balas de revólver | Foto: Universidade de Maryland
Liangbing Hu e seu colega Teng Li mostrando a supermadeira; pesquisadores a testaram com projéteis semelhantes a balas de revólver | Foto: Universidade de Maryland
Foto: BBCBrasil.com

Projéteis

Os pesquisadores da Universidade de Maryland testaram o material com tiros de projéteis de aço, similares a balas de revólver.
Os projéteis atravessaram a madeira natural, mas ficaram retidos até a metade quando disparados contra a madeira tratada.
"A supermadeira é tão forte quanto o aço, mas seis vezes mais leve", diz Hu.
Ele agrega que o tratamento funcionou nos testes realizados em três tipos de madeira dura (tília, carvalho e álamo) e outros três de madeira mais leve (cedro e pinheiro).
Técnica comprime buracos e falhas da madeira
Técnica comprime buracos e falhas da madeira 
 
 
Foto: Getty Images / BBCBrasil.com
 
 
E, ao adensar madeiras mais leves, será possível diversificar seu uso, explica o pesquisador.
"Madeiras leves como o pinheiro, que crescem rapidamente e são mais ecologicamente corretas, podem substituir florestas mais densas porém de crescimento mais lento, como a teca, (para fabricação de) móveis ou edificações", diz Hu.
Questionado sobre essa tecnologia estimular o desmatamento, Hu argumenta que "a madeira densificada pode ser usada por mais tempo, e por isso não resultará na destruição de florestas".
Agora, os pesquisadores estão em busca de aplicações para a nova tecnologia, e uma startup universitária foi criada para comercializar a técnica.





BBC Brasil  /  G1  SC