quarta-feira, 7 de abril de 2021

Dia Mundial da Saúde destaca os desafios da área

 Entre tantas dificuldades causadas pela pandemia, campanha da OMS visa “construir um mundo mais justo e saudável”


Com o agravamento da Covid-19, hospitais e profissionais enfrentam uma dura realidade a cada dia 

O Dia Mundial da Saúde é anualmente celebrado em 7 de abril, desde a década de 1950. A comemoração, que foi uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), aborda temáticas diferentes a cada ano. Na edição de 2021, a campanha da OMS é “construindo um mundo mais justo e saudável”. Para marcar a data, diversas entidades que representam os profissionais da área da saúde no RS e gestores de hospitais de Porto Alegre falam sobre os desafios enfrentados desde o último ano, sobretudo em relação ao combate à Covid-19. A doença, segundo os especialistas, trouxe o desconhecido e uma grande necessidade de resiliência e superação diária. 

Para o membro do Conselho de Administração do Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa), Jorge Bajerski, as principais dificuldades ao longo da pandemia dizem respeito às condições de manter os hospitais funcionando em um cenário que já se prolonga há mais de um ano. “Isso realmente exigiu de todos os gestores e profissionais uma força descomunal do ponto de vista físico, emocional e, ainda, ter condições de enfrentar um dia a dia tão duro, principalmente aqueles que estão na linha de frente”, frisou.

Conforme Bajerski, todas as estruturas hospitalares foram afetadas pelo contexto pandêmico e todas as rotinas mudaram. “Tivemos que refazer nossos processos de trabalho muito rápido, pois a pandemia não nos permitiu ter tempo para planejamento”, destacou. Além disso, ele enfatizou a prática do distanciamento dentro dos hospitais, do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) que não eram usuais para a maioria das pessoas e o reforço dos cuidados para proteger as equipes. “Tudo isso trouxe para a realidade dos hospitais um mundo completamente diferente”, pontuou. 


Universo desconhecido exigiu resiliência

A Sulmed manteve os atendimentos normalmente desde os primeiros casos de Covid-19 no Estado. Apesar de seguir recebendo pacientes, foi necessário adaptar os protocolos de distanciamento e higienização, bem como os fluxos diferenciados nas unidades para os pacientes com suspeita ou com diagnóstico positivo da doença.

Segundo a gerente-geral Mara Regina Desessards, o maior desafio foi lidar com o desconhecimento sobre a doença. "Era uma coisa nova, que a gente não tinha conhecimento suficiente sobre, então fomos criando protocolos específicos para poder prestar bons atendimentos aos beneficiários", explicou. De acordo com Mara, a Sulmed buscou realizar diagnósticos com agilidade para evitar que os pacientes fossem hospitalizados.

Além disso, Mara ressaltou que, desde o começo da pandemia, a Sulmed tem feito um controle frequente e constante dos pacientes com Covid-19. Após o resultado do exame, as equipes da Sulmed entram em contato com os pacientes, repassam informações sobre a necessidade de isolamento social e ainda encaminham contatos diretos das equipes médicas. Para que os próximos meses sejam mais tranquilos, é preciso reforçar a conscientização e acelerar o processo de vacinação. "Acreditamos que se houver vacinação em massa e se a população entender que precisa reforçar os cuidados, as coisas melhoram.”

Hospitais e profissionais precisaram agir rápido 

“À medida que fomos conhecendo a doença, compreendemos que tínhamos condições de tratar e que era possível estruturar nossos hospitais, principalmente nossas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), para a demanda específica desse paciente que aparecia”, explicou a diretora-presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Nadine Clausell, em relação aos reflexos provocados com a chegada do novo coronavírus. 

Segundo ela, a pandemia surpreendeu pela magnitude e, também, pela duração. Entre os principais desafios no Clínicas, Nadine destacou que foi a criação de novos 105 leitos e a contratação de profissionais. “Recebemos 775 vagas específicas para Covid-19 e foi uma corrida para admitir essas pessoas nos processos seletivos para essa quantidade de atividades, então começávamos a entender o tamanho do problema”, frisou. Além disso, Nadine, que recentemente se tornou membro honorário da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, destacou que “ninguém imaginava que um ano depois estaríamos com esse grau de intensidade e de mortalidade, tanto aqui no Sul, quanto no Brasil inteiro”.

“Estamos todos os dias recebendo mais e mais pacientes, então tem uma coisa comportamental que poderia ter sido diferente se as pessoas compreendessem a gravidade”, reiterou. Para Nadine, o ano foi de muitas frustrações e cansaço. “Não vejo muita mudança, nos preocupamos com a circulação do feriado que passou e logo vai começar a esfriar, então estamos preocupados e temos muitos pacientes com outras doenças, que não deixam de existir”, destacou. Nadine ainda pontuou que 2021 “está muito comprometido” do ponto de vista de retomada das atividades da saúde.

De acordo com a gerente médica do Hospital Moinhos de Vento, Gisele Nader Bastos, o maior e principal desafio ao longo da pandemia tem sido a preservação das vidas. “O desafio foi conhecer um pouco mais esse vírus, cuidar dos colaboradores, a expansão dos leitos, a contratação de novos profissionais e as adaptações das rotinas”, disse. Segundo ela, um dos grandes desafios, do ponto de vista social, “é o entendimento de que a ciência tem que ser soberana”. “E agora temos o desafio de conseguir vacinas suficientes e rápidas para imunizar a população”, assinalou. 

Gestão de equipes e processos são essenciais

No Dia Mundial da Saúde, os responsáveis pela gestão dos principais hospitais referência para tratamento de pacientes com Covid-19 em Porto Alegre falam sobre as maiores dificuldades enfrentadas desde o início da pandemia até agora. O diretor técnico do Hospital Divina Providência, Willian Dalprá, enfatizou que o principal desafio foi adaptar tanto a estrutura hospitalar, quanto os processos de atendimento e distribuição das equipes. Apesar dos inúmeros desafios e da necessidade de organizar a gestão de equipes e processos, a dedicação e o empenho dos profissionais está sendo fundamental para superar a doença e salvar vidas. 

“Não havia uma habitualidade de tratamentos, diagnósticos, principalmente de desenhos assistenciais de formatos especializados nos hospitais para atender uma doença nova, com mortalidade muito alta e que se espalhava muito rápido", comentou. Conforme Dalprá, além de todas as alterações nos fluxos operacionais, foi fundamental focar na proteção das equipes.

A respeito dos desafios, o diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição, Cláudio Oliveira, destacou as possibilidades de falta dos EPIs e das máscaras que se apresentaram no início da pandemia, bem como a manutenção de estoques de insumos. “Estamos vendo uma estabilidade e até leve redução da ocupação de leitos, nós esperamos que até a metade de abril nós tenhamos uma redução que nos dê a possibilidade de voltar com as cirurgias eletivas e os atendimentos de consulta, para poder também atender os pacientes que não tenham Covid-19”, frisou. “Temos que vacinar pelo menos 70% da população, com as duas doses, para que se tenha uma tranquilidade”, afirmou.

Entidades unem esforços para vencer a Covid-19

o das principais entidades médicas está sendo muito importante para enfrentar a pandemia e dar o suporte necessário sobretudo aos profissionais que estão na linha de frente de combate ao coronavírus. O presidente do Sindicato Médico do RS (Simers), Marcelo Matias, afirmou que a pandemia foi “uma escola de dificuldades” para a categoria. “Descobrimos que o sistema não estava pronto para enfrentar esse aumento de fluxo de pacientes e, ainda, descobrimos que as medicações necessárias para manter o suporte desses pacientes têm um limite de produção e distribuição, pelo menos nesse momento", reiterou. Matias destacou que “é preciso um sistema de saúde mais adequado e, para isso acontecer, é necessário que a população comece a fazer exigências com relação a essa questão. “Não estamos livres da pandemia, não temos uma perspectiva de finalização rápida do que está acontecendo”, assinalou.



Jéssica Hübler / Correio do Povo