sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Vítima detalha abusos de professor de vôlei preso acusado de estuprar atletas em São José

Professor e árbitro de vôlei, André Wilson Testa, 31 anos, foi preso acusado de vários crimes de estupro contra menores de idade na quinta-feira (4).

Ele fazia você ter confiança nele, dizia que não iria acontecer nada, que estava tudo bem e você ia gostar daquilo. Ele tentava te tranquilizar para mostrar que aquilo ali não era errado”. Esse é o depoimento de João Victor Querino Morais, uma das vítimas do professor e árbitro de vôlei André Wilson Testa, 31 anos, natural de São José, que foi preso acusado de vários crimes de estupro contra menores de idade nesta quinta-feira (4).
Hoje aos 19 anos, o jovem criou coragem para procurar a polícia e denunciar os supostos abusos que sofreu do ex-treinador. Na época, o atleta ainda era menor de idade, tinha 15 anos.
De acordo com João, foram ao menos seis abusos sexuais. O jovem fez um boletim de ocorrência e procurou a polícia em maio de 2022. Em alguns casos, o jovem relatou que, inclusive, foi alcoolizado pelo treinador antes dos atos.

Ele [André] dizia que a gente teria que sair para conversar sobre trabalho. Aí você chegava lá e não tinha nada de trabalho, ele só queria beber e comer”, detalha João.

Então ele te oferecia bebida, ia trazendo qualquer tipo de bebida e ‘mandando mais para dentro’. Ele ficava dizendo que se você não bebesse você era ‘chato’, ‘insuportável’. Querendo ou não uma hora você acabava cedendo porque era muita pressão psicológica”, completa.

O que diz a polícia
André Wilson Testa é professor e árbitro de vôlei ligado a Federação Catarinense de Voleibol e à Associação Desportiva e Cultural Terra Firme de São José.

Marcela França Goto, delegada responsável pela investigação, pediu a prisão preventiva do suspeito, que foi detido no fim da tarde desta quinta-feira.

A prisão presentiva foi acatada pelo judiciário e na tarde de ontem [quinta] foi dado cumprimento ao mandado. No momento ele se encontra preso”, relata a delegada.

As primeiras testemunhas foram ouvidas no mês de junho. Os jovens que relataram terem sido abusados sexualmente são todos meninos. Todos são ex-alunos de Testa.

Os adolescentes gostavam bastante do suspeito, além de treinador, eles tinham uma amizade. Então o suspeito começou a levar para restaurantes, bares e lá ele oferecia bebida alcoólica para depois abusar sexualmente das vítimas”, explica Goto.

Foram quatro vítimas que prestaram esclarecimento, todos com riqueza de detalhes, relatando o mesmo modus operandi do suspeito”, relata a delegada.

Ele [André] começou a pedir para as vítimas apagarem mensagens. Com uma das testemunhas, inclusive, ele simulou ele se passando pela delegada e fazendo perguntas, então ele orientava a vítima como ela deveria responder e omitir os abusos sexuais”, completa.


André foi indiciado por estupro de vulnerável, importunação sexual, além de violar dois artigos do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) o artigo 232, que diz respeito a humilhar e constranger adolescente; além do artigo 243 que é fornecer bebida alcoólica a menor de idade.

Os casos denunciados, de acordo com relato das vítimas, vem desde 2017, pelo menos. A delegada explica que a investigação segue para apurar a participação de outras pessoas. Além disso ela acredita que, com a divulgação do caso, mais vítimas possam procurar a polícia.

O que diz a defesa do suspeito
André Wilson Testa está preso no complexo penitenciário de Florianópolis. Não há prazo para a validade da prisão e as investigações continuam.

O advogado Leandro Henrique Martendal, do escritório Bertol Advogados, é o responsável pela defesa do suspeito.

A defesa do acusado alega que a prisão preventiva de André Wilson Testa é “inoportuna, desnecessária e ilegal”. A defesa disse ainda que a polícia só “apresentou ilações e conjecturas, que André é inocente, e que não são procedentes as acusações”.

Veja na íntegra:
“A prisão preventiva de André Wilson Testa é inoportuna, desnecessária e ilegal. A polícia apenas apresentou ilações e conjecturas e, com isso, não comprovou a imprescindibilidade da prisão preventiva, assim como não justificou o cabimento de outras medidas cautelares diversas da prisão.André é inocente e não são procedentes as imputações.

Conforme se comprovará no transcorrer do processo, há denuncismo de viés vingativo. Todas as informações colhidas até o presente momento foram produzidas sem que fosse oportunizado o direito ao contraditório.” 

Fundação Municipal de Esporte

A Fundação Municipal de Esportes da Prefeitura de São josé também se manifestou. Disse que os fatos apresentados para a polícia tratam de um possível estupro praticado por um dos técnicos.

Informou ainda que por orientação da procuradoria geral do município o professor foi afastado das atividades vinculadas com a prefeitura. Veja a nota:

Fundação Municipal de Esportes e Lazer – FUNESJ informa que: 1- Em maio deste ano a Superintendência da FUNESJ tomou conhecimento informalmente do Boletim de Ocorrência feito por um atleta que foi atendido em anos anteriores por um dos projetos, e que os fatos apresentados à autoridade policial tratavam de um “possível estupro” praticado por um dos técnicos da modalidade de voleibol.

2- A par de parte dos fatos, uma vez que as investigações correm em segredo de justiça, e após solicitar à Procuradoria Geral do Município orientações sobre as providências a serem tomadas, a FUNESJ acatou as recomendações da PGM e buscou notificar imediatamente os responsáveis técnicos pelo projeto Voleibol do Futuro e o professor foi afastado de todas as atividades vinculadas com o município.

3- O Termo de Colaboração entre a FUNESJ e a Associação Desportiva e Cultural Terra Firme tem por objeto a manutenção do Programa de Desporto e de Rendimento, mediante custeio dos trabalhos do Projeto de Voleibol, com a contratação de professor, fornecimento de materiais e divulgação dos projetos nas comunidades sem referência a manutenção de Casa Atleta.

4- A FUNESJ atuará para a acompanhar e colaborar com as investigações. Caso fique comprovado que os fatos narrados no inquérito policial transcendem a figura do acusado e/ou ficar evidenciado a má conduta da instituição na execução do projeto, o Termo de Cooperação será rescindido.

5- Seguiremos firmes no propósito de manter os projetos esportivos em pleno funcionamento de forma segura.

O que diz a FCV
A FCV enviou uma nota, nesta sexta-feira (5). A entidade revela que não recebeu denúncias. Confira na íntegra:

A Federação Catarinense de Vôlei vem a público se manifestar perante a matéria publicada no dia de ontem (04/08/22) que ganhou repercussão pela gravidade dos fatos apontados.

Incialmente cumpre esclarecer que a FCV repudia qualquer ato de violência, assédio ou discriminação, o esporte, em especial o vôlei, não compactua com qualquer prática abusiva, pelo contrário trata-se de formar pessoas melhores e contribuir como opção saudável de vida.


Esclarecemos ainda que em nenhum momento recebemos qualquer tipo de denúncia envolvendo o Sr. André e que tão pouco tomamos conhecimento dos procedimentos policias ou judiciários visto que tramitam em segredo, porem, como medida preventiva no sentido de facilitar as investigações, o afastamos das suas funções até que os fatos sejam devidamente apurados pelas autoridades competentes.    

CBV
A CBV (Confederação Brasileira de Voleibol), em nota, determinou “o afastamento imediato” do quadro da FCV (Federação Catarinense de Vôlei).

“[determina] o afastamento imediato do Sr. André de suas funções, além de suspender seu registro na entidade, não podendo atuar ou participar em nenhuma competição oficial de voleibol, até que os fatos sejam devidamente apurados.


A CBV reitera que repudia qualquer tipo de violência e assédio sexual e moral, e que luta de forma incessante por um ambiente pautado pela ética e pelo respeito, e livre de qualquer tipo de violência ou preconceito”, reiterou a nota encaminhada pela entidade.



Claudério Augusto via site ND Mais, com informações NDTV